TANTO MAR Sei que estás em festa, pá Aqui fica a homenagem a todos os militares que se arriscaram a levar em frente este golpe que nos permite vivermos hoje em liberdade. Que nos permite erguer a voz e gritar quando não estamos contentes com o que nos tentam impôr, mesmo que nada façamos! Sim, porque as nossas vozes não se erguem em protesto, baixamos a cabeça a uma falsa democracia e vamos vivendo, pensando apenas nas memórias do passado, no dia em que em alta voz se gritava: "MFA! O Povo está contigo!" ou "Povo unido, jamais será vencido!". Pensem nesta última frase e perguntem-se onde é que se vê esse povo unido? Fazemos alguma coisa para mudar o estado em que estamos? Não! Limitamo-nos a esperar que as coisas melhorem sem quase nada fazer por isso. E os nossos protestos são gritos mudos presos na garganta! E hoje, dia 25 de Abril de 2004, 30 anos volvidos sobre o dia em que se respirava liberdade, depois da opressão e ditadura, o que respiramos nós? Qual o grito de hoje? Liberdade? Democracia? 25 de Abril sempre? Sim será sempre, em cada ano, mas de significado simbólico apenas. Como apenas são estas palavras. Hoje foi dia de festa, a festa do dia 25 de Abril de há 30 anos, quando deveria ser a festa do "25 de Abril" de todos os dias. E os cravos de Abril? Já não têm a mesma fragrância... Os verdadeiros cravos ficaram perdidos no passado...
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
Chico Buarque, na versão que foi censurada de 1975
A segunda versão em 1978, teve algumas alterações.