Foi em 1978, no Verão, que te conheci. Nesse ano, num dos poemas de «doze moradas de silêncio» citei Rilke: «Uma só coisa é necessária: a solidão, a grande solidão interior. Caminhar em si próprio e, durante horas, não encontrar ninguém é a isto que é preciso chegar.(
)
Numa noite de Verão
O teu olhar
Cruzou o meu
Senti a paixão
Invadiu-me os sentidos
Perdi-me no negro profundo
Senti que me roubavas
Mais que um beijo
Foi junto ao mar
Que te amei
Foi na margem do rio
Que de ti me despedi
- Je t'aime je t'aime
- Oh oui je t'aime!
- Moi non plus.
- Oh mon amour...
(
)Hoje, sem ti, já não consigo pressentir a sombra magnífica da noite sobre o rio. Nada se acende em mim ao escrever-te esta carta.(
)
Vagueio pela noite
Encosto a cabeça na nossa rocha
Ainda morna pelo sol
Enterro a mão na areia
Em busca de um tesouro enterrado
O meu
O teu
O nosso tesouro
Apenas grãos deslizam pelos dedos
A mão fica vazia
Como eu
(...)Só a foz do rio parece guardar a memória duma fotografia há muito rasgada. O vento, esse, persegue a melancolia dos passos pelas dunas.(
)
Corro perdida pelas dunas
Lembras quando nos escondíamos?
Como tu rias quando nos procuravam
E nós enrolados nas areias
Embalados pelo vento da paixão
Sussurrávamos palavras
Que hoje recordo
Aquela música
A que chamávamos nossa
Soa ainda nos meus ouvidos
Melodia que se desprende
Das ondas do mar
- Je t'aime je t'aime
- Oh oui je t'aime!
- Moi non plus.
- Oh mon amour...
(
)Sento-me onde, dantes, me sentava contigo, perto do farol.(
)
Muro branco que rodeia o farol
Tantas histórias encerras
Escadas de madeira
Degraus de pedra
Desço
Sobes
Deitamo-nos
Fecho os olhos
Sorris
Um carro que passa
Faróis que iluminam
Dois seres que dele
Se tentam esconder
Je vais je vais et je viens
Entre tes reins
Je vais et je viens
Entre tes reins
Et je me retiens" </strong>
(
)Adormeço ou começo a subir o rio para fugir à imensa noite do mar.(
) Vou prosseguir viagem assim que o dia despontar e o som do teu nome, gota a gota, se insinue junto ao coração.
Terra que nos uniu
Vila que nos separou
O mar viu nascer o nosso amor
O rio lançou correntes sobre a despedida
Seguimos diferentes viagens
Regresso sempre a Milfontes
Para te amar mil vezes
E me despedir outras mil
A letra da música é bastante conhecida, cantada por Serge Gainsbourgh - "Je t'aime moi non plus".
As frases citadas são de Al Berto, do seu livro "O Anjo Mudo", texto "Carta de Milfontes".
O resto é meu, claro.
Obrigada, amigo Ice, por este presente enviado no meu aniversário, o qual estou a adorar ler e que acabou por me trazer belas recordações.