"Batem leve, levemente, como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente e a chuva não bate assim...
É talvez a ventania, mas há pouco há poucochinho,
Nem uma agulha bulia na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho..."
Conheço esta Balada desde os meus tempos de criança, tal como a maior parte de vocês, suponho. Fala da neve, mas hoje lembrei-me dela, não devido à neve, já que onde estou não vejo esse esplendor de brancura, mas por estar mais um dia chuvoso e de frio. E eu aqui estou, com papéis à minha frente, trabalho que devo fazer mas... sem qualquer vontade de continuar... E vim aqui espreitar, escrever mais um pouco, quando a vontade é de estar no aconchego da minha casa, enrolada num cobertor frente à lareira e a ver um bom filme. É o que apetece em dias assim! Mas, lá terei de regressar ao trabalho. Está ali a olhar-me com ar zangado como quem diz: "não guardes para amanhã o que deves podes fazer hoje".
Mais logo cá voltarei.
Hoje é um dos dias em que apenas me apetece ficar a olhar o vazio, a pensar no que fui, no que sou e na dúvida do que serei... A sentir um descontentamento sem saber o porquê... A tentar descobrir em mim mesma o que me faz acordar todos os dias... Por vezes, apenas me apetecia ficar de olhos fechados tentanto não pensar em nada... É apenas... mais um dia...
O CARNAVAL
Estamos a entrar na efémera época de folia, aquela em que muitos se mascaram... ou desmascaram...
E recordo, mais uma vez, os meus tempos de menina, em que me vestia de forma diferente, normalmente fatinhos feitos por minha mãe.
A paciência que ela tinha para criar aquelas máscaras: de saloiinha, de fada, de indiana, de cigana, de espanholita...
Não, nunca me vesti de anjo...
Enfim, uma quantidade de fantasias a que a minha mãe se dedicava durante semanas antes do Carnaval.
Tantas horas que dedicou à costura, muitas vezes, noite dentro, para que tudo estivesse pronto para aqueles dias, e a sua menina fosse mais uma vez o seu orgulho.
Chegado o primeiro dia, era passear pelos jardins, pelos locais onde se brincava ao Carnaval, que é como quem diz, onde passavam os desfiles carnavalescos.
Essa foi a fase mais longínqua da minha meninice.
Depois disso, recordo os Carnavais passados no Alentejo, meu querido Alentejo.
Que diferentes que eles eram.
Um mês antes já eu andava ansiosa pelos poucos dias de férias, para poder fazer a mala e partir rumo a Sul.
Assim que lá chegava, pouco estava em casa de meus tios e logo ía procurar os amigos para combinar quais as partidas daquele ano e de que forma nos íamos desmascarar.
Sim, desmascarar...
Lá sempre ouvi os mais velhos utilizar essa expressão, para significar as máscaras que as pessoas utilizavam.
O mais divertido consistia em mascarar-nos de forma a não sermos reconhecidos por ninguém excepto, obviamente, aos do grupinho que se organizava.
E, passávamos as noites a passear pelas ruas, a entrar em cafés, no único bar que existia naquela época e nas sociedades recreativas onde se organizavam os bailes de Carnaval, brincando com todas as pessoas, rindo, e saltitando...
E o mesmo se repetia em todas as noites entre Sábado e 3ª Feira, utilizando sempre máscaras diferentes em cada noite: as calças do tio e o boné do tio, o casaco do avô; ou então: o vestido da tia e a sua alcofa de ir às compras, uma bengala; mas, sem nunca esquecer de esconder bem o rosto, os cabelos, as mãos.
Depois, era ouvir as perguntas do dia seguinte sobre quem seria "fulano", aquele que lhe entregou uma caixinha cheia de algodão, ou aquele que lhe entregou uma carta perfumada e fechada (e nada lá dentro).
E enquanto os outros se perguntavam quem seriam, nós ouvíamos e ríamos entre nós, imaginando quais as partidas que iríamos programar para essa noite
Aqui fica um dos exemplos do excelente trabalho de Louis Royo, do qual sou admiradora.
Hoje li um artigo que revelava como os portugueses são um alvo fácil para a sida. Aliás, esse era mesmo o nome do artigo publicado na revista Focus. E mencionava nesse texto a forma como os portugueses continuam a ignorar as necessárias medidas de prevenção, assim como demonstrava a falta de informação, de conhecimento por parte da maioria dos portugueses... infelizmente...
Continha ainda um quadro de estatística que me deixou abismada e que tinha os seguintes resultados:
55% nunca usou protecção numa relação sexual
71% julga que usar 2 preservativos simultaneamente é mais seguro que um
25% tem vergonha de comprar preservativos
40% (dos que já usaram preservativos) revela que é difícil encontrar um parceiro que os queira utilizar
40% (dos que já usaram preservativo) tem medo que o parceiro não tenha prazer com preservativo
44% Acredita que pode ser contagiado por uma picada de insecto
23% Pensa que pode contrair o vírus HIV ao sentar-se numa sanita de uma casa de banho pública
26% Acredita que o diafragma e o DIU protegem contra a infecção
21% Não sabe onde se dirigir para fazer um teste
Este estudo já havia sido publicado numa edição da revista Teste Saúde. Eu vejo estes resultados e continuo a pensar: como é possível, existindo tantas campanhas, existir ainda um conjunto tão alargado de pessoas que esteja tão afastada da realidade? Onde é que as campanhas falharam?
Bastante preocupante também é o resultado do estudo realizado por Orquídea Lopes, investigadora, sobre o conhecimento dos jovens, tendo contado com uma amostra de 1000 jovens de idades compreendidas entre os 14 e os 16:
31,9% Acha que a pílula previne a sida
53,5% Acha que não corre riscos porque não tem relações sexuais com pessoas que consomem drogas
19,7% Diz que ao olhar para a pessoa sabe se ela tem sida
41,6% Só se envolve sexualmente depois de falar com o parceiro para perceber se ele está infectado
Meu Deus, onde estamos a chegar? Mas será que a educação sexual não funciona? E os pais destes jovens não sabem tirar estas dúvidas? Ou será que eles próprios não têm resposta para elas?
Com tudo isto, não é de admirar que os portugueses sejam o tal "Alvo Fácil"...
«Também este crepúsculo nós perdemos.
Ninguém nos viu hoje à tarde de mãos dadas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.
Olhei da minha janela
a festa do poente nas encostas ao longe.
Às vezes como uma moeda
acendia-se um pedaço de sol nas minhas mãos.
Eu recordava-te com a alma apertada
por essa tristeza que tu me conheces.
Onde estavas então?
Entre que gente?
Dizendo que palavras?
Porque vem até mim todo o amor de repente
quando me sinto triste, e te sinto tão longe?
Caiu o livro em que sempre pegamos ao crepúsculo,
e como um cão ferido rodou a minha capa aos pés.
Sempre, sempre te afastas pela tarde
para onde o crepúsculo corre apagando estátuas.»
Pablo Neruda
«Em cada manhã te são entregues vinte e quatro horas de ouro. São uma das poucas coisas neste mundo que estão livres de impostos. Se tivesses todo o dinheiro do mundo, não poderias comprar nem mais uma hora. Que farás com tão valioso tesouro? Lembra-te, tens de o usar, pois só te é oferecido uma vez. Se o desperdiçares, não o poderás recuperar.»
«Pedi riqueza,
Foi-me oferecida a pobreza,
para a minha força interior achar.
Pedi fama,
para os outros me poderem conhecer;
Foi-me dado o anonimato,
para saber conhecer-me.
Pedi alguém a quem amar
para jamais ficar sozinho;
Foi-me dada a vida de um eremita,
para aprender a aceitar-me como sou.
Pedi poder,
para coisas realizar;
Foi-me dada a hesitação,
para a obedecer aprender.
Pedi saúde,
para uma longa vida viver;
Foi-me dada a doença,
para cada minuto sentir e também apreciar.
Pedi à Mãe Terra coragem,
para seguir o meu caminho;
Foi-me dada a fraqueza,
para sua falta poder sentir.
Pedi uma vida feliz,
para a vida poder gozar;
Foi-me dada a vida,
para poder ser feliz.
De tudo o que havia pedido,
nada me foi ofertado,
apesar disso, contudo,
todos os meus desejos
realidade se tornaram.»
Autor Desconhecido