Naquela noite vesti-me para a festa. Coloquei o meu vestido longo, negro, que tu adoravas, o anel que me ofereceste, o perfume que te inebriava.
Era a forma de te sentir mais perto e não a mais de 100 km de distância, por terras do Sul.
Saí de casa contigo no meu pensamento e com a dor no peito, de quem sentia a aproximação de um fim.
A noite estava fria, como se esperava de uma noite de Dezembro e aconcheguei o casaco no pescoço, imaginando que seria o teu abraço. Entrei no carro, esfregando as mãos do frio e liguei o aquecimento. Seguia pela estrada que me levava ao hotel no meio da serra, à festa que me aguardava. As ruas estavam enfeitadas para receber o Natal e algumas pessoas apressadas seguiam em direcção às suas casas, na ânsia do calor do lar.
Entrei nos jardins do hotel, estacionei o carro e entrei na recepção. Rapidamente me indicaram a sala onde se encontrava o grupo de amigos em amena cavaqueira. Juntei-me a eles mas o meu coração sentia um aperto e pensei em ti, se estarias bem. Pensei em ligar-te mas tive receio do que a tua voz me dissesse.
Peguei num copo, dei mais uma volta pela sala, conversei um pouco, dei alguns sorrisos, ouvi umas piadas. Mas, o meu pensamento estava em ti e no teu tom de voz na última vez que conversámos.
E enquanto eu me sentia indecisa e tocava na mala, com vontade de pegar no telemóvel e ligar-te, eis que ele toca.
Eras tu! Não cabia em mim de contente, sem saber que esse telefonema seria o princípio do fim.
Notei na tua voz a frieza da noite de Inverno, nas tuas palavras o gelo que me entrava a pouco e pouco nos ossos. O meu encantamento foi caíndo, dando lugar à tristeza. Um tempo, pediste-me tu... Apenas um tempo! Deverias conhecer-me melhor e saber que não te daria um tempo. Que esse tempo que necessitavas, seria o fim. Para mim, não haveria retorno.
Desliguei o telemóvel e a minha vontade foi fugir dali, sossegar no meu canto, chorar as minhas mágoas, lamber as feridas.
Não podia... Pessoas que não imaginavam o que se passava, esperavam-me lá dentro... Lá, onde a festa se desenrolava. Lá, onde os risos e conversas se sobrepunham a qualquer desespero.
E eu alisei o meu vestido, ergui o rosto que se mantinha sem lágrimas, nem sei bem como, coloquei o meu melhor sorriso e, como se acabasse de vencer uma batalha, entrei esbanjando alegria, escondendo a minha derrota.
Uma alegria falsa, um disfarce tal como o de um palhaço.
Da minha boca saíam palavras de agrado, de riso, de brincadeira. No meu peito o coração gemia.
No meu rosto, os sorrisos sucediam-se. Nos meus olhos, as lágrimas esforçavam-se por não cair.
E assim terminei aquela noite de festa.
Uma festa feita de risos e lágrimas não derramadas.